PEDIR PERDÃO FAZ BEM À SAÚDE

Segundo profissionais da saúde, o perdão traz benefícios ao coração.

Por sermos seres humanos, é natural em alguns momentos termos alguns sentimentos ruins como raiva, rancor e tristeza, principalmente quando nos decepcionamos com alguém. Profissionais da saúde garantem que alimentá-los faz mal e que o perdão é um sentimento que traz benefícios à saúde e ao coração.

Segundo o médico cardiologista Felipe Serena Porto, a raiva, tristeza e decepção não fazem bem, porque esses sentimentos podem provocar o efeito direto de um estresse agudo por liberação de hormônios – principalmente adrenalina – ou por ação direta do cérebro sobre o coração, também mediado pela adrenalina. A mesma aumenta os batimentos cardíacos e faz subir a pressão, o que pode desencadear arritmias.

A liberação do excesso de adrenalina na circulação, em caso de um estresse agudo, pode ocasionar um infarto, além de fazer com que as artérias fiquem mais rígidas. Existe, ainda, a ‘síndrome do coração partido’, que ocorre quando a pessoa teve um estresse muito intenso, como um assalto, roubo ou perda de um ente querido, o que faz o organismo liberar tanta adrenalina na circulação que o coração sofre um infarto.

Alguns problemas cardíacos possuem relação com nossos sentimentos

Enquanto existem esses sentimentos ruins que podem prejudicar a saúde, o profissional explica que os bons, como o perdão, amor, confiança e felicidade, por exemplo, fazem com que o cérebro libere dopamina e serotonina, os hormônios do bem-estar e do prazer. ‘Esses hormônios fazem bem para o coração, porque são o contrário da adrenalina. Eles protegem os vasos sanguíneos’, comenta o profissional.

Além disso, perdoar, de acordo com Porto, melhora a imunidade, regulariza pressão arterial e batimentos cardíacos, aumenta a disposição e melhora o sono. ‘Já a raiva, ansiedade e rancor fazem totalmente o oposto. Quanto mais nervosa e estressada a pessoa for, maior o risco de desenvolver pressão arterial’, acrescenta.

PSICOLOGIA

Praticar o perdão significa parar de alimentar um sentimento de ressentimento

A psicóloga Évelin Tatielle Fröhlich ressalta que perdoar é algo que exige empatia, sensibilidade e desprendimento de todo um padrão social do que é certo e errado. ‘Acredito que o perdão ocorre de forma genuína quando conseguimos olhar para o acontecimento sem julgar’, observa. Praticar o perdão, de acordo com a profissional, significa parar de alimentar um sentimento de ressentimento, entender que a vida segue em frente, dar uma chance para si mesmo, para sorrir mais, se sentir mais leve e em paz.

‘Às vezes, ocorre de perdoamos o outro, mas continuamos sem concordar com as suas atitudes, continuamos sem compreender exatamente as motivações. Por isso, perdoar é um bem que fazemos a nós mesmos’, explica. É por meio do perdão que as pessoas conseguem se livrar de sentimentos ruins que, muitas vezes, definem as escolhas e até interferem no olhar sobre o mundo.

Enquanto há quem tem facilidade em perdoar e alimentar sentimentos ruins, existem pessoas que não são assim. Segundo a psicóloga, isso tem relação com a forma como cada uma encara a vida: ‘Todo processo começa dentro de nós, pelo autoconhecimento. Antes de definir o que queremos dos outros, precisamos entender o que desejamos de nós mesmos’.

Faixa etária

A adolescência é uma idade de sentimentos mais intensos como a raiva.

Na adolescência – por ser uma fase em desenvolvimento que traz uma série de mudanças físicas e psicológicas ao encontro também de incertezas e angústias – é comum as pessoas terem sentimentos mais intensos, inclusive os ruins, como a raiva. De acordo com a psicóloga Évelin Tatielle Fröhlich, é possível avaliar que essa faixa etária pode encontrar mais dificuldades para lidar com a raiva e o rancor por não saber como conduzir determinada situação pela instabilidade emocional da própria fase de desenvolvimento.

Como lidar com os sentimentos ruins?

A psicóloga Évelin Tatielle Fröhlich observa que, à medida que as pessoas crescem, aprendem que é feio ficar brabo ou sentir raiva, que chorar é coisa de gente fraca e logo entendem que sorrisos e sentimentos bons são mais bem aceitos do que lágrimas: ‘Assim vamos perdendo contato com nosso corpo, nos tornando alheios às nossas próprias emoções. Isso dificulta o nosso manejo com sentimentos ruins e a tendência é sempre reprimir’.

Contudo, de acordo com a profissional, a raiva é um sentimento natural em todos os seres humanos, o que varia é a forma como cada um lida com ela. O que faz mal é quando se tem dificuldade de compreender e expor esse sentimento de raiva, porque isso gera uma tensão interna que acumula e gera sintomas psicossomáticos: ‘Ou seja, quando não conseguimos ‘aliviar’ esse desconforto interno, o nosso corpo reage’. Diante disso, surgem as gastrointestinais (gastrite, úlcera, diarreia), doenças de pele e cardíacas.

Para controlar esses sentimentos, primeiro, de acordo com a psicóloga, é preciso ter consciência de que a vida não é feita apenas de alegrias. ‘O sofrimento e alguns sentimentos ruins são inevitáveis a todo e qualquer ser humano. Com isso, podemos nos permitir sentir todo e qualquer tipo de sentimento, sem culpa’, explica.

Outra dica é conseguir refletir e buscar compreender o que causou tamanha angústia, localizar inclusive o real motivo, como, por exemplo, se foi a atitude de alguém ou a forma como esta atitude refletiu sobre a pessoa. Além disso, falar sobre a raiva é um importante aprendizado e crescimento pessoal que traz alívio e reflete diretamente no bem-estar e na autoestima.

Fonte: Folha do Mate – edição 16/02/18
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