ALIMENTOS PODEM SUMIR POR CAUSA DAS MUDANÇAS AMBIENTAIS
Alguns alimentos tradicionais correm o risco de desaparecer de nosso cardápio |
Saem de cena a arara-azul e o mico-leão-dourado: é do cardápio brasileiro que algumas espécies correm o risco de desaparecer.
ONGs, chefs de cozinha e órgãos ambientais têm levantando a bandeira segundo a qual é preciso evitar alimentos que, embora comuns na mesa nacional, estão ameaçados de extinção. A lista inclui peixes, crustáceos, palmito e até o prosaico pinhão.
O caso dos peixes é emblemático: o governo federal estima que 80% dos recursos pesqueiros estão ameaçados pela pesca excessiva no país. Um erro comum dos pescadores é realizar a sua atividade durante o defeso, período de reprodução das espécies.
Isso vem ocorrendo com a lagosta. “É preciso evitar consumi-la no período de defeso, entre dezembro e maio. O problema é que o defeso coincide com o verão, quando a lagosta é muito apreciada no litoral”, diz Leandra Gonçalves, bióloga consultora da ONG SOS Mata Atlântica.
A lagosta corre maior risco por causa da coincidência do período de defeso com a estação de verão |
Levantamento da ONG realizado no final de maio em 35 estabelecimentos que vendem pescado em São Paulo mostrou que todos eles vendiam peixes no período de defeso, contrariando a regra do Ibama de não capturá-los.
Além da lagosta, outras espécies a serem evitadas são o badejo, o aratu (caranguejo) e o cação –que é uma denominação genérica para as espécies de tubarão.
O movimento “slow food”, que surgiu na Itália na década de 1990 como uma respostas de pessoas ligadas à gastronomia contra a lógica do fast food reuniu, em um catálogo chamado “Arca do Gosto”, alimentos de todo o mundo que precisam ser protegidos do desaparecimento.
No total, são 1.066 ingredientes em 60 países. No Brasil, o levantamento traz 24 ingredientes ameaçados.
As razões para o risco de extinção podem ser ecológicas, como o desmatamento que dizima determinada espécie vegetal, ou culturais –ingredientes ou práticas culinárias tradicionais que vão sendo esquecidos.
A chef Claudia Mattos é especialista no resgate de alimentos originalmente brasileiros |
“Queremos chamar a atenção para as espécies que estão desaparecendo e buscar alternativas, seja no incentivo aos produtores para que continuem com o cultivo daquele alimento, seja pela substituição na cozinha por outros alimentos que não estão ameaçados”, diz Mariana Guimarães Weiler, coordenadora do movimento no país.
Mas nem sempre a melhor estratégia para evitar a extinção de um alimento é deixar de consumi-lo. A chef de cozinha Claudia Mattos, do restaurante Espaço Zym, em São Paulo, trabalha no resgate de ingredientes bem brasileiros, como a castanha de baru, a farinha de babaçu e a taioba.
“O princípio é consumir o ingrediente para assegurar a sobrevivência da espécie e das pessoas que a produzem”, diz a chef.
Fonte: Folha de São Paulo – Edição 05.06.13
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