ONÇA SEM MATA, MATA SEM ONÇA…


Mata Atlântica, viveiro da onça pintada
A Mata Atlântica abriga ainda cerca de 250 onças-pintadas, dentre as quais apenas 50 em atividade reprodutiva. A onça é mais conhecida por enfeitar a nota de R$ 50. Não é tão difícil dar de cara com ela no dia a dia, pintada nova em folha no caixa eletrônico, aninhada em grupo numa carteira bem-aventurada. Símbolo nacional, afinal de contas.

O bicho de verdade, maior felino do hemisfério Ocidental, terceiro maior do mundo (tigre e leão à frente), rondava também o bioma Pampa, mas foi varrido pelos gaúchos de todas as procedências, com e sem acento. A meados dos 1930, a pintada podia ser vista até nos arredores de Porto Alegre, sempre solitária, que em grupo é invenção de carteira cheia: o animal tem manhas de gato, gosta de viver só.

No Rio Grande do Sul de agora, o número de onças se calcula em quatro ou cinco, punhado espremido no Parque Estadual do Turvo, em Derrubadas, esquina com Argentina e Santa Catarina. Esse assassínio gradual da espécie Panthera oncatem relação direta com a devastação da Mata Atlântica, reduzida a menos de 10% da sua cobertura précolonização europeia. Das áreas restantes, apenas 24% são extensas o bastante para hospedar as onças, e o animal está ocupando 7% desses retalhos, publicaram 13 cientistas brasileiros em janeiro na revista Science.

Onça Pintada é uma espécie em extinção

Uma das soluções para estancar a sangria é a criação de corredores interligando todos os biomas, da Argentina ao México (abaixo, no Uruguai, e acima, nos EUA, a onça já era). O internacional Panthera Project tenta desenhar essas rotas convencendo fazendeiros e comunidades da importância de deixar a onça viajar em segurança. Em um trabalho exibido nas televisões de 53 países, o Instituto Onça-Pintada (IOP) acompanhou a jornada da jaguar ?Lenda?, que emigrava do Cerrado para o rio Araguaia, corredor natural até a Amazônia, esperança de sobrevivência e acasalamento.

“A onça está praticamente extinta no Estado, e o nosso alerta é que o Rio Grande do Sul não está sozinho. Em toda a costa brasileira está havendo declínio”, diz Eduardo Eizirik, professor da Faculdade de Biociências da PUCRS e coautor da carta-alerta na Science.

O biólogo Dante Meller, gestor do Parque do Turvo, reputa a sobrevivência de onças no Estado à proximidade com a província argentina de Misiones, cujas florestas se estendem até o Parque Nacional do Iguaçu (PR).

“É um animal difícil de ser avistado. Normalmente encontramos rastros. Há poucos dias soubemos de pegadas num município próximo à Reserva Indígena do Guarita, a 15 quilômetros daqui. Achamos que a onça faz esse trajeto de ida e volta” – sugere Dante, lamentando o conflito com agricultores e pecuaristas. “Procuramos trabalhar, mas há pouca gente. O povo se estabeleceu nessa cultura de caçar e explorar a floresta”.

O cenário não é muito melhor no Iguaçu, onde a população de onças caiu de 180 para 18, informam Marina Xavier da Silva e Ronaldo Morato, que coordenam, respectivamente, o projeto Carnívoros do Iguaçu e o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap).

Fonte: Revista Planeta Ciência (Demétrio Rocha Pereira) – Zero Hora
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